Quinta-feira, 11.05.06

Dezenas de investidores foram hoje à sede da empresa no Porto

Dezenas de investidores da Afinsa deslocaram-se hoje à sede da empresa em Portugal, no Porto, para tentar saber mais informações sobre o futuro dos investimentos realizados, alarmados com a possibilidade de insolvência da casa-mãe, em Espanha.

A maior parte destes investidores escusou-se a prestar informações aos jornalistas e os poucos que falaram sobre este assunto pediram sempre o anonimato.

À saída dos escritórios da sede da empresa, um deles referiu ter vários investimentos na Afinsa, num montante superior a 100 mil euros, pelo prazo de dois anos e a promessa de uma taxa de juro de 6%.

O mesmo investidor considera que, neste momento, "há pouco a fazer", restando-lhe apenas aguardar e confiar que os investimentos em Portugal não sejam afectados.

"São poupanças de uma vida, mas não tenho outro remédio senão esperar", referiu, explicando que o contrato realizado, bem como toda a documentação veio da Afinsa Espanha, mas o valor pago mensalmente de prémio pelo investimento era efectuado em cheque e processado por um banco português.

Segundo o contrato, o investimento realizado não pode ser resgatado, mas se no próximo mês de pagamento do prémio não receber o cheque em casa, este investidor tomará as diligências necessárias para ser ressarcido de todo o prejuízo.

Um outro investidor, acompanhado pela mulher, deslocou-se hoje à sede da Afinsa porque tinha feito um contrato, também a dois anos e com uma taxa de 6%, cuja data já havia terminado.

Apesar de se escusar a revelar o montante investido, o casal afirmou que a Afinsa lhe pagou, em cheque processado por um banco português, o dinheiro e os juros a que tinha direito e, por isso, afirmava-se satisfeito, apesar de garantir que "não se envolverá noutro investimento semelhante".

Também à saída das instalações da Afinsa no Porto, duas investidoras de 37 e 39 anos explicaram ter subscrito há um mês um dos produtos propostos pela empresa, que lhes garantia o pagamento de uma taxa anual de 9%, num contrato por 50 meses.

"Disseram-nos para aguardarmos uma ou duas semanas para ver como a situação evoluía e é o que vamos fazer, porque estamos, neste momento, com as mãos e os pés atados", disseram.

A maioria das pessoas admitiram que foram atraídas a investir nos produtos Afinsa pelas boas rentabilidades que a empresa lhes oferecia, afirmando "não perceber como é que isto pode acontecer numa empresa conceituada e com mais de 20 anos de existência".

Um dos investidores mostrou mesmo um documento, datado de Fevereiro deste ano, no qual a DECO - Associação de Defesa do Consumidor, questionada por este cliente da Afinsa, lhe assegurava tratar-se de uma empresa "fiável".

Ao que se apurou junto dos investidores, era-lhes oferecido um lote de selos, com prazos e montantes de investimento diferenciados e com valorizações líquidas anuais entre 6 e 9%, dependendo do prazo e montante investido.

Os selos em causa ficavam à guarda da Afinsa, dada a possibilidade do cliente poder estragar os produtos, o que resultaria na perda do investimento, explicou um dos investidores.

Segundo alguns especialistas, os cerca de 12 mil investidores da Afinsa em Portugal poderão ter dificuldade em reaver o seu investimento em selos se for declarada a insolvência da casa-mãe em Espanha.

O facto do investimento em bens tangíveis (selos, obras de arte, antiguidades) não estar regulado e não ser alvo de supervisão de entidades como o Banco de Portugal ou a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deixa desprotegidos esses investidores.

A Afinsa e o Fórum Filatélico - empresas criadas em Espanha relacionadas com o mercado de selos, arte e antiguidades - tinham ramificações em Portugal, mas foi em Espanha que terça-feira foram acusadas pelo Ministério Público espanhol de alegada fraude.

As duas entidades são acusadas de delitos contra as finanças públicas, lavagem de dinheiro, insolvência punível, administração fraudulenta e falsificação de documentos.

As empresas aceitavam depósitos a troco de juros, uma actividade que em Portugal só é permitida às instituições financeiras creditadas pelo Banco de Portugal.

Terça-feira, com a acção das autoridades espanholas, as contas bancárias das duas empresas foram bloqueadas em Espanha, os bens embargados e detidas nove pessoas - cinco da Afinsa e quatro do Fórum Filatélico.

Dois dos detidos são portugueses, o fundador e presidente honorário da Afinsa, Albertino de Figueiredo, que tem dupla nacionalidade, e o seu filho Carlos de Figueiredo Escriba.

O Ministério Público espanhol ainda não concluiu as investigações e deverá pedir auxílio às autoridades portugueses para averiguar se as irregularidades detectadas também se estenderam a Portugal, apesar de aqui não existirem queixas.

Por isso mesmo a Polícia Judiciária - através da Direcção Central de Combate à Criminalidade Económica e Financeira - nunca desencadeou qualquer investigação.

As alegadas burlas terão afectado mais de 350 mil investidores e o montante deverá ultrapassar os 2.500 milhões de euros.

A Afinsa tem apelado à "tranquilidade" dos seus clientes, prometendo cooperar com as autoridades e garantindo "todos os compromissos firmados com os seus clientes".
.....

DE com Lusa

publicado por AEDA às 20:00 link do post | favorito

Afinsa/Fraude

Mercado português de leilões vai ser afectado considera especialista

O leiloeiro Paulo Dias, um dos maiores do sector em Portugal, considerou hoje que o mercado português de leilões filatélico vai ser negativamente afectado, no prazo de um mês, pelas notícias sobre o encerramento da empresa Afinsa.

"Acredito que pode haver algum impacto negativo no mercado filatélico, no prazo de um mês, devido a uma certa prudência por parte dos clientes menos esclarecidos e enquanto as notícias sobre este assunto não forem suficientemente esclarecedoras", explicou.

Na terça-feira foram detidas em várias cidades espanholas nove pessoas, entre as quais dois portugueses, durante uma operação contra crimes económicos alegadamente cometidos pela empresa Afinsa e pelo Fórum Filatélico.

No mercado filatélico há três leiloeiras colectadas, as quais fazem entre 2 e 3 milhões de euros por ano, disse Paulo Dias, especialista filatélico da Leilões P. Dias.

A Afinsa e o Fórum Filatélico usavam os selos, como activos tangíveis, para captarem a poupança de pequenos aforradores que investiam a troco de uma remuneração garantida superior à proporcionada pelos produtos do sistema financeiro.

Segundo Paulo Dias, "a actividade da Afinsa e do Fórum Filatélico nada tem de semelhante com o negócio de filatelia das leiloeiras [ou mesmo do comércio filatélico], em que o coleccionador e/ou o cliente está integrado num mercado directo".

"Jamais o objectivo do coleccionador e/ou do cliente é o de investir para obter uma remuneração especulativa de curto prazo, mas comprar um bem tangível [selo] que também é cultural e artístico", explicou.

Em Portugal, a actividade das três leiloeiras portuguesas colectadas com actividade filatélica, tem a ver com a aquisição de selos, no sentido do "puro filatelismo", sublinhou.

"É lamentável que estas entidades [que presumivelmente cometeram fraude] tenham supervalorizado os selos, porque também eram editores de catálogo, aumentando o seu valor como lhes convinha", disse Paulo Dias.

No caso das leiloeiras portuguesas "nada disto é possível fazer, pois não há movimento directo sobre o objecto, o selo", frisou.

Embora esta situação "não seja favorável", Paulo Dias admitiu "não ter receio por causa do efeito temporário que este caso de fraude poderá ter no mercado filatélico".

"A filatelia tem vindo a registar um número crescente de aderentes, estamos perante um mercado sólido e forte e mais tarde quem compra selos sabe que pode vir a ter um retorno face ao valor da compra inicial".

No entanto, "nunca poderemos dar uma garantia de retorno. O que podemos dizer ao coleccionador é que a médio/longo prazo, quando e se entender desfazer-se dos selos, estes apresentam um forte potencial de valorização".

Adiantou que em Portugal a época e a colecção de selos do período clássico até à República são os que apresentam maior valorização, na ordem dos 6%, e que a Afinsa operava com base na época moderna, anos 40/50, em que a valorização é muito pequena, devido à raridade e à quantidade existentes.

DE com Lusa

2006-05-10

publicado por AEDA às 01:56 link do post | favorito

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