Dezenas de investidores foram hoje à sede da empresa no Porto
Dezenas de investidores da Afinsa deslocaram-se hoje à sede da empresa em Portugal, no Porto, para tentar saber mais informações sobre o futuro dos investimentos realizados, alarmados com a possibilidade de insolvência da casa-mãe, em Espanha.
A maior parte destes investidores escusou-se a prestar informações aos jornalistas e os poucos que falaram sobre este assunto pediram sempre o anonimato.
À saída dos escritórios da sede da empresa, um deles referiu ter vários investimentos na Afinsa, num montante superior a 100 mil euros, pelo prazo de dois anos e a promessa de uma taxa de juro de 6%.
O mesmo investidor considera que, neste momento, "há pouco a fazer", restando-lhe apenas aguardar e confiar que os investimentos em Portugal não sejam afectados.
"São poupanças de uma vida, mas não tenho outro remédio senão esperar", referiu, explicando que o contrato realizado, bem como toda a documentação veio da Afinsa Espanha, mas o valor pago mensalmente de prémio pelo investimento era efectuado em cheque e processado por um banco português.
Segundo o contrato, o investimento realizado não pode ser resgatado, mas se no próximo mês de pagamento do prémio não receber o cheque em casa, este investidor tomará as diligências necessárias para ser ressarcido de todo o prejuízo.
Um outro investidor, acompanhado pela mulher, deslocou-se hoje à sede da Afinsa porque tinha feito um contrato, também a dois anos e com uma taxa de 6%, cuja data já havia terminado.
Apesar de se escusar a revelar o montante investido, o casal afirmou que a Afinsa lhe pagou, em cheque processado por um banco português, o dinheiro e os juros a que tinha direito e, por isso, afirmava-se satisfeito, apesar de garantir que "não se envolverá noutro investimento semelhante".
Também à saída das instalações da Afinsa no Porto, duas investidoras de 37 e 39 anos explicaram ter subscrito há um mês um dos produtos propostos pela empresa, que lhes garantia o pagamento de uma taxa anual de 9%, num contrato por 50 meses.
"Disseram-nos para aguardarmos uma ou duas semanas para ver como a situação evoluía e é o que vamos fazer, porque estamos, neste momento, com as mãos e os pés atados", disseram.
A maioria das pessoas admitiram que foram atraídas a investir nos produtos Afinsa pelas boas rentabilidades que a empresa lhes oferecia, afirmando "não perceber como é que isto pode acontecer numa empresa conceituada e com mais de 20 anos de existência".
Um dos investidores mostrou mesmo um documento, datado de Fevereiro deste ano, no qual a DECO - Associação de Defesa do Consumidor, questionada por este cliente da Afinsa, lhe assegurava tratar-se de uma empresa "fiável".
Ao que se apurou junto dos investidores, era-lhes oferecido um lote de selos, com prazos e montantes de investimento diferenciados e com valorizações líquidas anuais entre 6 e 9%, dependendo do prazo e montante investido.
Os selos em causa ficavam à guarda da Afinsa, dada a possibilidade do cliente poder estragar os produtos, o que resultaria na perda do investimento, explicou um dos investidores.
Segundo alguns especialistas, os cerca de 12 mil investidores da Afinsa em Portugal poderão ter dificuldade em reaver o seu investimento em selos se for declarada a insolvência da casa-mãe em Espanha.
O facto do investimento em bens tangíveis (selos, obras de arte, antiguidades) não estar regulado e não ser alvo de supervisão de entidades como o Banco de Portugal ou a Comissão de Mercado de Valores Mobiliários (CMVM) deixa desprotegidos esses investidores.
A Afinsa e o Fórum Filatélico - empresas criadas em Espanha relacionadas com o mercado de selos, arte e antiguidades - tinham ramificações em Portugal, mas foi em Espanha que terça-feira foram acusadas pelo Ministério Público espanhol de alegada fraude.
As duas entidades são acusadas de delitos contra as finanças públicas, lavagem de dinheiro, insolvência punível, administração fraudulenta e falsificação de documentos.
As empresas aceitavam depósitos a troco de juros, uma actividade que em Portugal só é permitida às instituições financeiras creditadas pelo Banco de Portugal.
Terça-feira, com a acção das autoridades espanholas, as contas bancárias das duas empresas foram bloqueadas em Espanha, os bens embargados e detidas nove pessoas - cinco da Afinsa e quatro do Fórum Filatélico.
Dois dos detidos são portugueses, o fundador e presidente honorário da Afinsa, Albertino de Figueiredo, que tem dupla nacionalidade, e o seu filho Carlos de Figueiredo Escriba.
O Ministério Público espanhol ainda não concluiu as investigações e deverá pedir auxílio às autoridades portugueses para averiguar se as irregularidades detectadas também se estenderam a Portugal, apesar de aqui não existirem queixas.
Por isso mesmo a Polícia Judiciária - através da Direcção Central de Combate à Criminalidade Económica e Financeira - nunca desencadeou qualquer investigação.
As alegadas burlas terão afectado mais de 350 mil investidores e o montante deverá ultrapassar os 2.500 milhões de euros.
A Afinsa tem apelado à "tranquilidade" dos seus clientes, prometendo cooperar com as autoridades e garantindo "todos os compromissos firmados com os seus clientes".
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